A taxa de juros, a Selic, vem caindo de forma constante desde 2016. Há praticamente quatro meses, está estabilizada em 6,5% ao ano. Com isso, a taxa de juros reais, descontada a inflação, está em média 3% ao ano. Especulo que não terá indicativo de mudança até as eleições. Assim, espero. Contudo, o consumidor continua pagando cerca de 300% ao ano de juros no cartão de crédito e no cheque especial. Em suma, nos últimos dois anos a taxa básica de juros, que serve de referência para as demais, foi cortada em mais da metade, mas o custo do crédito para a população continua astronômico assim, como a lucratividade dos bancos. As alterações da taxa de juros mexem na economia como um todo. Praticamente um efeito cascata. Interferem com interesses variados, desde trabalhadores, donos de contas em fundos de pensão, bancos públicos, privados, passando por famílias, rentistas, indústrias e outras atividades que, com liquidez, obtêm ganhos financeiros que ajudam a compor a rentabilidade.
Mas o leitor deve estar se perguntando: por que o custo do dinheiro é tão alto? Bem, este custo é alto por dois motivos. O primeiro, o que permite uma lucratividade excessiva aos bancos, está atrelado à falta ou a inexistência de educação financeira da população. O brasileiro se submete às altas taxas cobradas. As pessoas reclamam, mas continuam a comprar, ou seja, se elas compram por um determinado preço, por que o banco vai deixar de vender? A taxa de juros, em finanças, está atrelada ao tempo de consumo, ou seja, o quanto estou disposto a poupar hoje para consumir amanhã. De certeza, o brasileiro tem pouca educação financeira e pouca noção de poupança.
O segundo motivo está associado a um sistema bancário altamente concentrado. Por mais que tenhamos operação via internet e bancos totalmente digitais, são os grandes bancos que estão por trás dessas operações. O Nubank, por exemplo, uma das maiores e mais lucrativas startups brasileiras, emite seus boletos com o selo do Banco Safra. O último Relatório de Economia Bancária (REB), divulgado pelo Banco Central (BC), de 2017, ressalta a alta concentração bancária do país, que, por consequência, inibe a competitividade. O estudo da autoridade monetária mostra que dois bancos públicos, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, dominam o mercado de crédito pessoal, com 39,8% de participação. E os três maiores bancos privados, Itaú, Bradesco e Santander, detêm outros 36,3%, ou seja, juntos ficam com 76,1% do bolo de crédito.
No relatório, o BC adianta que uma maior concorrência significa menor custo do crédito e maiores benefícios para a população. Não me contentei com o estudo do Banco Central que aponta apenas uma alta concentração de crédito e fiz uma pesquisa no Fundo Monetário Internacional (FMI). Lá, encontrei um relatório do ano 2000, assinado pela técnica Agnes Belaisch, na qual apontava que, além da alta concentração de crédito, o que temos no país é um cenário pouco competitivo e que funciona como oligopólios.